Eis a história de um narrador, que se questiona o pertencimento ao lugar do qual fala: os fundos da casa em que habita. Pensa, também, numa questão bem mais ampla, porque Nael mesmo estando à margem da casa e da sociedade percebe os fatos ocorridos em ambas, ou seja, o que interessa ao narrador é, a partir de sua história pessoal, entender o Brasil. Ao assumir a função de contador da história, Nael enxerga tanto a casa quanto a cidade de Manaus sem idealizações, assim o leitor compreende o mal fadado projeto de modernidade, que não atingiu toda a população e, que beneficiou apenas uma minoria, a qual sempre usufruiu do resultado do trabalho dos explorados. A cidade narrada na obra, no início do século XXI, não é a mesma que Milton Hatoum conheceu na sua infância, quando havia uma cidade que carregava os ares da ¿belle époque¿ com suas praças, cafés, colégios e cinemas, lugares que cederam espaço à Zona Franca no final dos anos 50, uma época em que a capital do Amazonas tornou-se uma cidade industrializada, com uma população periférica totalmente desassistida pelo Estado, vivendo na penúria em casas improvisadas às margens dos rios e igarapés.